passaram duas semanas depois do tornado qe invadira a nossa relaçao . nem eu nem tu sabiamos por onde andar . nao era verao nem primavera e a chuva nao cessava , cristalina mas fria escorria pelo vidro da unica janela qe existia na minha casa de banho . ultimamente tinha passado muito tempo fechada dentro daqelas quatro paredes laranja pálido . só saí umas cinco vezes de casa em duas semanas , para mim ainda era surreal . logo eu , qe passava grande parte do tempo ás compras , no cinema , em saidas . aqele dia tinha posto um fim nao só na nossa relaçao como nas minhas vagabundeagens incontrolaveis . das poucas vezes qe saí , nao mais serviram do qe para tentar espairecer . foram inuteis . na minha cabeça só pairava o teu nome , a tua voz ressoava nos meus ouvidos , o toqe da chuva lembrava-me os teu dedos macios sobre a pele do meu rosto e o cheiro da terra molhada pela chuva um tanto salgada só me fazia sentir ainda mais culpada . a culpa nao era só minha e eu sabia , mas qem tinha começado aqela conversa tinha sido eu por ja nao aguentar mais . se deixasse passar mais um dia estava a dar um passo em frente no abismo . sabiamos qe este dia tinha qe chegar , nao tinhamos era a certeza de quando . a unica coisa qe restava eram memorias , fotografias , lugares e cheiros . tu levaste tudo o qe te pertencia , incluindo o meu coraçao . estava agora deitada sobre a colcha verde pimento da minha cama listrada a castanho . no lado esqero havia uma forma decalcada no colchao . a forma do teu corpo . estava a olhar para o candeeiro bege perolado qe se centrava no imaculado branco do tecto . lembrei-me entao de uma tarde de verao em qe tinhamos ido passar ferias a veneza . tinhamos andado de canoa por essas ruas mergulhadas em turqesa água doce . só passaram duas semanas e nao sabes a falta qe me fazes . ainda me lembro de quando dizias qe dentro de ti existia um eu muito mais forte do qe eu imaginava . e eu sempre disse “gosto de gostar de ti” .
eu sabia qe nao ias resistir . em menos de três semanas tinha voltado a sentir a tua presença . uma presença nao fisica , pois tu , o teu corpo , nao estava lá . eu nao podia sentir a tua pele aveludada , o teu cabelo encaracolado qe escorria com delicadesa por entre os meus dedos nem ouvir a tua alta e habitual gargalhada qe sempre soltavas para me fazer sorrir . pressentia-te . conseguia ouvir o teu respirar , como se me espiásses . até agora eu pensava qe tudo isso era apenas da minha imaginaçao qe parecia dominada pela vontade de te ter . na minha caixa de correio estava um envolope um tanto amachucado , endereçado com o teu nome no remetente . pousei-a sobre o napron de renda rosa velho da comoda perto da porta da saida e sentei-me no sofá azul escuro holandez , procurando uma maneira de me refugiar de ti . a carta só confirmava a presença qe tinha vindo a sentir ha dias atrás . fazia-me recuar , esqecer o mundo e pensar em ti . em todos os nossos momentos e nos lugares qe os marcavam . peguei nas chaves e rodei a massaneta da porta azul escura sem brilho . mal pus um pé no degrau , uma sensaçao de panico invadiu a minha mente , entrando pelos olhos , passando pelos foliculos carmim dos meus pulmoes e chegando ao meu cerebro . parei . a porta ainda estava aberta atrá de mim .
por instantes alcancei um campo de visao muito mais amplo e pareceu-me ver-te . imaginaçao minha . vivias a vários metros dali e nao lá irias fazer nada . consegui fechar a porta e descer o degrau de granito polido . sentei-me no banco do jardim a três quarteiroes do sitio onde vivia e olhei a despida arvore de tronco castanho malhado pelo musgo qe a humidade invernal lhe conferia .vi a tua cara , relembrei os teus definidos caracois e o longo sorriso qe se estendia nos teu lábios roseos . desde a carta qe nao consegui abrir qe o meu unico pensamento eras tu . nao variava muito , nas ultimas semanas tu dominavas-me . quando regressei a casa á porta estava uma caixa verde clarinho com um laço castanho brilhante . nao lhe toqei , abri a porta e voltei a olhar para ela . tinha um ar inocente . qe disparate , as caixas nao têm ar de inocentes . peguei nela e levei-a para dentro . tinha o meu nome no peqeno cartao por baixo do laço . era minha . puxei por uma das fitas , um pouco a medo e tirei-lhe a tampa . dentro tinha um ramo de flores , das minhas preferidas . muito coloridas e bastante perfumadas , mas com um toqe de tristeza . mesmo no fundo da caixa havia um bilhete . estava celado com fita colorida e tinha um desenho na frente , uma ancora . só podia vir de ti , tu é qe usavas bastante o simbolo da ancora . dizias qe era perfeito para dizer qe estavas preso a mim em poucas palavras . nao eram precisas muitas tentativas para adivinhar o qe estava dentro do bilhete . tirei a fita , sem rasgar e abri para ler . dizia “preso a ti” . tinha uma caligrafia bastante cuidada escrita a caneta preta sobre linhas azul céu . sorri . era teu . estiqei-me um pouco para conseguir apanhar a carta e abri-a tambem . esta continha um pedido de desculpas e a tua tipica frase “tenho um tu muito mais forte do qe tu imaginas dentro de mim” . duas horas depois a minha campainha assinalava a tua chegada . com um gigantesco sorriso abraçaste-me com tanta força qe as lagrimas vieram-me aos olhos , fazendo deturpar tudo o qe ainda podia ver . as tuas maos qentes envolviam a minha cintura e um calor reconfortante instalou-se por entre os ossos da minha espinha .
wrote on March 7th , 8th , 9th and 10h ,
anna
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